Brasil cai uma posição no ranking de percepção da corrupção

Na semana passada foi publicada a atualização do Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional IPC, referente aos dados de 2019.

Este é o índice mais usado no mundo na gestão anticorrupção, inclusive no setor privado, dentro do processo de avaliação due-diligence de fornecedores e parceiros de negócios, e nas tomadas de decisões de investimentos/ desinvestimentos e projetos transnacionais.

Seguem algumas informações do relatório do IPC 2019.

O indicador revela um número surpreendente de países que mostraram nenhuma ou pouca melhora no combate à corrupção, que recomendou reduzir a influência do dinheiro na política e promover um processo decisório político inclusivo para coibir a corrupção. Tal como nos anos anteriores, os dados mostram que, apesar de ter havido algum progresso, a maioria dos países ainda falha no enfrentamento eficiente da corrupção no setor público.

escala IPC

Nos últimos oito anos (desde 2012, quando a metodologia do IPC mudou para a atual), apenas 22 países mostraram melhoria significativa em sua pontuação do IPC, como, por exemplo, a Grécia, a Guiana e a Estônia. No mesmo período, 21 países tiveram significativa queda em suas notas, como o Canadá, a Austrália e a Nicarágua (pelo número de pontos, o Brasil está nesta lista também). Nos 136 países restantes, os níveis de corrupção sofreram pouca ou nenhuma alteração, segundo o documento.

A pontuação média dos 180 países participantes do índice é de 43 pontos (em 100 possíveis). Neste ano, 66,7% dos países tiveram nota inferior a 50 pontos. Os países que tiveram maior pontuação obtiveram números na casa dos 80 pontos (como as primeiras colocadas Dinamarca e Nova Zelândia, com 87 pontos).

Os países nórdicos tiveram pontuação acima de 77 pontos. No entanto, estas nações não são imunes à corrupção, verificando-se escândalos associados a lavagem de dinheiro e outros tipos de corrupção privada (p.ex. arquivos Fishrot –Samherji, grande conglomerado da indústria da pesca da Islândia; Ericsson – gigante das telecomunicações sueca; Danske Bank, maior banco da Dinamarca). O último colocado no IPC foi o Sudão, com 9 pontos.

A média das Américas foi de 43 pontos (mas com grandes disparidades, desde o Canadá com 77 pontos até a Venezuela com 16 pontos. Os EUA tiveram 69 pontos, atingindo sua pior marca desde 2012).

O Brasil contabilizou 35 pontos (menor do que a média mundial e das Américas), caindo do 105º lugar em 2018 para a 106º posição em 2019, sua pior posição desde 2012. O relatório ressalta piora nacional no arcabouço legal e institucional anticorrupção, mencionando as dificuldades no avanço de reformas abrangentes em seu sistema político, interferências políticas no executivo, e retrocesso no STF (p.ex. liminar do Presidente Dias Toffoli para suspensão temporária do uso de dados financeiros e fiscais sem autorização judicial de órgãos de inteligência como o COAF, o que praticamente paralisou o sistema de combate à lavagem de dinheiro).

Apesar de alguns esforços e avanços percebidos, os dados mostram que ainda há muito o que se fazer. Tanto nos meios políticos, nos 3 Poderes, empresas privadas, ONGs e cidadãos, deve haver evolução da cultura, comprometimento e conscientização, assim como na legislação/controles/investigação/punição anticorrupção para torná-los mais rígidos e efetivos. Mesmo nos países de maior IPC são observados escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro, pelo que os controles devem ser mantidos. Da mesma forma, pode se ver alguma evolução em alguns países de menor IPC, mas que demandam aprimoramento legal e de gestão.

Novos instrumentos que se mostrem efetivos são bem-vindos, como a ISO 37001. A adoção de padrões internacionais sempre é interessante para harmonizar as boas práticas entre os países, mesmo que o ritmo de adoção seja mais lento nos países em desenvolvimento ou de baixo IPC.

Vale reforçar a correlação entre o IPC e as certificações ISO 37001, como apontei em artigo anterior, o que foi também analisado pelo professor Rogério Meira: os países mais interessados até o momento na ISO 37001 (pelos dados da última ISO Survey, referentes a dezembro/18) são aqueles no “meio da tabela” do IPC, havendo uma baixa adesão à certificação ISO 37001 entre os líderes de pontuação do IPC.

O assunto ganha progressivamente mais importância, diante de tantos casos e escândalos identificados cotidianamente, e requer esforços de evolução da gestão!

Que a demanda por ética, integridade e propósito, percebida em pesquisas com as novas gerações e citada como tendência emergente, ajude neste processo de longo prazo, pressionando as instituições e agentes para tão necessário aperfeiçoamento!!

Michel Epelbaum – Diretor da Ellux Consultoria

Diretor da Ellux Consultoria. Tem mais de 25 anos de experiência nacional e internacional em gestão de sustentabilidade, qualidade, meio ambiente, saúde ocupacional e segurança, e compliance.  É membro dos Comitês Técnicos da ABNT de Gestão Ambiental, Antissuborno, Riscos, Governança, Responsabilidade Social e Energia. É Lead Assessor nas normas ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001, ISO 45001, ISO 19600 e ISO 37001.

Consulte nossos serviços de ConsultoriaTreinamento e Auditoria em Sistemas de Gestão de Compliance Integridade, nas Normas ISO 37001 – antissuborno e ISO 37301– compliance.

Saiba mais sobre este assunto em nossos posts relacionados:

Brasil despenca em ranking de percepção da corrupção: os riscos e as exigências aumentam!

COMPLIANCE E A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

BRASIL DECIDE ELABORAR NORMA CERTIFICÁVEL PARA SISTEMAS DE GESTÃO DE COMPLIANCE – NBR 19601

AVANÇOS NORMATIVOS EM GOVERNANÇA, COMPLIANCE E ANTISSUBORNO NA ISO – NORMAS ISO 19600 E ISO 37001

Gostou? Compartilhe este post!

Leave Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ellux Consultoria - há 25 anos trazendo soluções em Gestão da Sustentabilidade, Qualidade e Riscos.

Oferecemos auditorias, consultoria, treinamentos e gamificações em Sistemas de Gestão com base nas Normas ISO 14001, ISO 9001, ISO 45001, ISO 37001, ISO 37301, ISO 26000, NBR 16001, SA 8000, ISO 50001, ISO 31000, DSC 10000 e outros modelos.